quinta-feira, 30 de abril de 2020

Sutis observações de uma quarentena



Uau....essa semana vou completar aniversário "sem escrever"..... Mas como a quarentena não está fácil pra ninguém e, é importante registrar, vamos às observações desse período. Vou comentar algumas das coisas entre o que considero importante e que vêem marcando esses 43 dias passados em casa.

Primeiro que, no dia em que cheguei no trabalho e me mandaram voltar pra casa, chorei...chorei de desespero, pois não estava acreditando nisso. Me vi parada lá na faixa de areia, esperando um tsunami que demoraria dias para chegar. Aqueles primeiros dias foram doloridos, mas eles durariam apenas 15 - na minha cabeça - e tudo iria passar rapidinho. Nos primeiros dias foram somente eu e as meninas, depois o marido veio - pra ficar - e ficamos um pouco sem saber o que fazer, na expectativa de que ia logo passar. Naquele final de semana já conversei com o Diego que precisaríamos ter coisas para fazer em casa, ter rotina e que precisaríamos cuidar da convivência. Ele comprou tintas para pintarmos partes da casa, eu busquei materiais pedagógicos na minha mãe para ter o que fazer com as meninas e....começamos nossa quarentena!

Acho que uma ga-le-ra criou expectativas do "ficar em casa" que a realidade traduziu de outra forma. Aqui foi exatamente assim!! Eu, por exemplo, iria treinar, terminar um texto de artigo de Ginástica, ler livros, jogar jogos com as meninas e fazer atividades artísticas, estudar meu escasso e iniciante francês, jogar coisas fora, ajudar a pintar, arrumar algumas coisas na casa e aprimorar consideravelmente minha experiência em violão (veja bem, tudo isso era pra duas semanas). TUDO MENTIRA!!! Como que faz TUDO isso com duas crianças em casa? Simples, não faz!  

Acho que 70% do meu dia eu fico dedicada a elas ou à casa, outros 15% a 20% eu durmo e o que sobra é meu (mais ou menos). E isso tem horas que é desesperador! A rotina em quarentena é bem complexa, mas não posso achar o fim do mundo, pois meu empregador continua depositando o meu salário (o que me deixa de certa forma, tranquila), também tenho espaço para nos deslocarmos dentro de casa, material e criatividade (rs). O que é ruim mesmo é não ter tempo pra si, como uma válvula de escape, sabe!? As meninas são crianças ótimas, mas elas estão, como todas as crianças, cansadas. Uma está triste e outra irritada e o nome que vem mais à cabeça delas é "mãe". Me chamam, brigam entre si, ficam emburradas comigo, me pedem desculpas,  querem que eu faça coisas por elas e para elas, e é isso o dia todo. Se tive uns três banhos tranquilos e MEUS nessa quarentena, foi muito. Mas, como eu já mencionei, estamos indo bem, apesar disso. Ninguém apanhou na bunda ainda....kkkk. Devo ter saído do corpo umas 3 ou 4 vezes, mas voltei e a normalidade pairou por aqui. Nada melhor do que a convivência para ativarmos nossos dons e defeitos com mais frequência e de forma mais sensível. Aqui, eu me organizei e, estabeleci rotinas escolares e de atividades com elas já que a escola "entrou de férias"; pesquisei material das faixas etárias e vou sentindo no dia o que dá para fazer; vou mudando aqui e ali e adaptando também. Veja bem, quem faz isso SOU EU! O que eu tenho aqui: uma que é inteligente, dedicada e caprichosa, mas aqui em casa, está preguiçosa, pois não tem outras pessoas para ver o que ela faz. A Alice gosta dessa afago no ego e, mostrar para mim perdeu a graça! Já a outra é muito esperta, mas tudo vem acompanhado de garrancho (kkkk); tem horas que não consigo acreditar no que aprendeu. Ambas vão terminar a quarentena cheia de experiências e, a Laura acho que vai até estar jogando poker....kkk. Jogamos uno, rouba monte e ela se sai super bem; hoje vou ensinar paciência (rsrsrs). Mas elas se cansam também - Alice chora de saudades dos amigos e dos meus pais, Laura se irrita e faz birra; mas tentamos manter a sanidade andando de bicicleta na rua de casa! 

O marido mora fora - trabalha-dorme-trabalha-dorme - e, tem aquele perfil caseiro, de tomar cerveja em casa sem prejuízo, então é fato que é o que está sofrendo menos aqui. Além disso, ele não chama "mãe". Ainda não tivemos grandes divergências, o que infelizmente acontece em muitas casas, estamos nos adaptando constantemente (até com os home offices) e, conseguindo levar! Tem horas que eu sinto que ele veste a camisa do "eu AJUDO minha mulher", aí eu lembro que ele "não me ajuda" ele é morador adulto da casa, assim como eu; a faxina fazemos juntos; normalmente ele faz almoço, mas eu CERTAMENTE, estou ocupada com outra coisa (que é diferente de estar ME ocupando com alguma coisa). Quando parece que ele está "me ajudando" e, que ele tem as "coisas dele" para fazer, nessas horas eu fico PUTA, porque é fato que fico muito mais sobrecarregada que ele o dia todo. Roupas não se lavam sozinhas; nem saem do varal e vão para as gavetas; as atividades das meninas não se criam sozinhas; eu mereço um banho comigo mesma que não tenho; arrumação da casa do dia-a-dia não se faz com mágica, etc etc etc.....O grande dilema da convivência e, o enorme dilema de se nascer com uma vagina!!  

O trabalho! Mas que trabalho? Eu estou em casa e, todos da minha equipe de trabalho estão na casa deles, estamos de quarentena! E, nessa período talvez eu tenha aprendido o real significado do coletivo (ou da falta dele) e, a grande diferença entre chefiar e liderar (O Monge e o Executivo é um bom livro para entender isso!!!). A quarentena afeta a todos e cada um responde a ela de forma diferente - foi o que eu ouvi. E, por meio dessa reflexão que me trouxeram, pude observar quem se aventurou à re-invenção - e, se você foi um destes, parabéns!! Acho que a vida é isso, capacidade de adaptação, de ser inventivo, de experimentar, e aí, minha consciência segue mais tranquila, por aqui estamos buscando. Nesse meio, vi colegas sendo inventivos, vi colegas tentando, vi gente participativa e vi isso por toda a rede social; não só vi, como ouvi colegas. No entanto, tem jogadas que simplesmente precisam partir de determinadas peças num jogo de xadrez, que eu, e muitos outros na posição de peões, não podem fazer. Não posso, inclusive, implorar para fazer. A gente não implora para ajudar, fato! Como diz minha querida psicóloga: ajuda só tem valor quando pedem pra gente! Nessa linha, pedi uma ajuda para minha consciência e ela me disse: SILÊNCIO! Então, o silêncio me ajudou!

As redes sociais cansam! Elas são um meio de aproximação (ou de afastamento) nesse momento, trazem as diferentes visões de mundo com uma rapidez tão grande, que não dá para acompanhar. Eu me utilizei dela (e me utilizo muito), também aprendo com ela. Fiz aulas ao vivo ou gravadas de colegas professores, de pessoas que não conhecia, dei risada, pesquisei fake news, discuti posicionamento político (bem eu...kkk...mas só porque gosto de ver o que algumas pessoas respondem...rsrsrs); mas, também tem o contrário, o afastamento de pessoas que a gente nem imaginava que não faria falta alguma. Eu não consegui expor minha vida ou fazer marketing das pessoas - como muitos fazem - nessa quarentena, a não ser de atividades relacionadas ao trabalho e, um posicionamento aqui ou ali. Acho que a rede social invade tanto a nossa vida que eu não queria ficar "engolida" por ela. Mas, também, já tem tanta gente colocando suas opiniões como verdades expressas por aí, então preferi me poupar sabe. Realmente, as redes sociais, cansam!

Estamos num momento extremamente delicado da saúde global em que, minha maior preocupação por agora é fazer o que for possível para não deixar morrer aqueles que amo. Me preocupo muito com meus pais e, por isso eu os vi com mais "proximidade" por 3x nesses 43 dias, indo visitá-los na varanda da casa deles como sugeriu uma conhecida. Agora eles já não choram mais - talvez tenham entendido - mas eu ainda me preocupo MUITO. Me preocupo em contaminá-los, me preocupo em minhas filhas contaminá-los; por eles e para poder visitá-los na varanda é que estamos fazendo direitinho a quarentena, saindo apenas o necessário e, de máscaras, mesmo que nosso Governo Federal na figura do péssimo presidente diga o contrário. Imagine só que em meio a tudo isso ele decidiu brincar de ser o "dono do jogo". Sabe aquela criança birrenta que leva a bola embora porque não fez gol? Então, ele! Mal governante, pessoa ruim, político irresponsável. É o que temos enquanto covas estão sendo abertas devido ao grande número de mortes. Nossos dados de contaminação e de mortes também são FALSOS, pois são grandes os números de sub-notificações. E, o pior de tudo isso, é saber que tem gente que o empregador está pagando o salário pra FICAR EM CASA e essa pessoa está saçaricando por aí, indo inclusive treinar - porque, sinceramente, não sei quem foi que disse que voltar as academias era serviço essencial, antes do comércio, das escolas - quem? Sou professora de Educação Física, zelo pela qualidade de vida com intervenção especializada do exercício físico, mas frequentar academias???? PQP... Eu tenho pago e vou continuar pagando o box em que treinava (mesmo achando que os treinos a distância deixaram muito a desejar); também pago a moça que me ajudava com a faxina; a professora de música com aulas online (que nem de longe substituem as presenciais, mesmo que ela se esforce) e, farei tudo isso enquanto NÃO TIVER NENHUM PREJUÍZO NO MEU SALÁRIO. Então, me dou o direito de ficar muito brava com quem - repleto de condições financeiras - esteja saindo de casa e indo treinar!

Eu pude aprender muitas coisas nestes 43 dias...MUITAS. E, acho que muitas pessoas aprenderão com esse isolamento todo. Aprendi, especialmente, a dar valor ao meu direito de ir e vir; aprendi que empatia não é uma planta que nasce em todos os jardins com a mesma beleza; que a escuta é extremamente importante e que faço pouco uso dela com as minhas filhas; e, que aquela pessoa super divertida e descolada não passa de alguém extremamente egoísta que cuida do seu umbigo. Acho que a maioria de nós já cansou da rotina do isolamento e, está na ânsia de poder retomar, mas não vamos... Não vamos retomar a vida que deixamos lá trás no dia 16 ou 17/03, não agora, não nos próximos meses. Seguimos agora uma vida diferente e espero apenas que nesse caminho novo todas aquelas pessoas que eu tenho enorme apreço, amor, carinho, que estão tendo o cuidado de se cuidar e de maneira direta e indireta cuidar de muitas outras pessoas, estejam ali comigo.

Boa noite aos pensadores queridos nessa quarentena 
#43

E, por favor, SE VOCÊ PUDER, fique em casa!



Imagens via Facebook "fique em casa"

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