sábado, 23 de maio de 2020

"Ao amor a nudez, ao restante a couraça!"


"Ao amor a nudez, ao restante a couraça!"

Não é bem essa a frase, mas acho que é quase isso.... 
De novo, minha psicóloga colocando frases que não devo esquecer. Ela sempre me diz: "O dia do benefício é a véspera da ingratidão" - que eu fiz uma postagem ano passado nas redes sociais e, que por acaso reforça o quanto não podemos esperar que as pessoas sejam gratas por algo, ou como podem precisar de você num dia e desfazer no outro....das questões complexas que o ser humano em seu ímpeto de excesso de racionalidade, egocentrismo, individualismo e ausência de empatia expressa.....

Bom, mas voltemos à primeira frase tema da minha ultima sessão, que me orienta, nesse momento, a não expressar DIRETAMENTE o que penso e sinto; que me faz lembrar que preciso me resguardar não para não expor os outros, mas para não me expor; que me faz gritar por dentro pra tentar estar plena por fora - haja vista minha necessidade de colocar algumas coisas para fora, mas não poder fazer como gostaria....

Nesse sentido, prefiro refletir algumas coisas por aqui, escrevendo, para me lembrar disso, seja para aprender, seja para mudar ou reforçar ideias e valores. Sinta-se incluído/a nestas reflexões ou não, muitos bois não têm recebido nomes ultimamente ao meu redor, mas todos ganham o capim!

Quem não escuta - e tem dificuldade para isso - tão pouco vai ouvir uma explosão de berros, no máximo, vai apenas demonstrar algum medo e fingir que escutou. Cuidem de ouvir suas crianças e certifiquem-se que elas estejam ouvindo você.....deve ajudar a não enlouquecer nesses dias! 

Tenho visto muitos pais/mães cobrar "mais trabalho" de escola e professores/ras; outros cobrando menos atividade para fazer em casa - já que eles não são professores - e muitos destes pais surfando o dia todo nas redes sociais. Deixa o seu celular de lado e vai ficar com sua criança um pouco, talvez você reclame menos do professor ou da professora.....

A quarentena reforçou e estreitou laços entre adultos e crianças. Em algumas casas foi bom para ambos, noutras horrível para os pais e, numas o pesadelo para os filhos. Numas casas vencem os pequenos, noutras vencem os pais e algumas outras vence o celular, o tablet, o vídeo game. Deixo aqui o reforço: tenha tempo (pouco ou muito) de qualidade; deixa o seu celular de lado e vai ficar com a criança um pouco!

Aqui a mais velha estava com "direito adquirido" de poder falar com amiguinhos/as pelo whatsapp, pois sente muito a falta deles. Eu mandava msg para a pessoa adulta proprietária do celular (geralmente a mãe) - algumas estão, inclusive, em casa como eu, e perguntava se poderiam se falar....durante a ligação ela ligava para mais coleguinhas. Nestes excessos - de ligar pra Deus e o mundo, quando eu havia deixado falar com um ou dois - dei a ela uma punição: não poderia ligar, apenas receber chamadas por 2 dias. Já são quatro/cinco dias sem receber ligações. Fico pensando, ou eu e ela estávamos sendo inconvenientes de ligar, ou, os coleguinhas não sentem a falta dela como ela deles. Uma pena!

Quando a tecnologia está aí - inerente - e a gente ainda tem uma atitude negacionista em relação a ela, talvez seja bem provável que viva num delay. Tem gente com dois meses de atraso e não entendeu ainda que o mundo que elas viviam em março, agora em maio é outro. e, nunca mais será o mesmo. Se meu aluno de 83 anos conseguiu ter um smartphone e acompanhar uma aula online morando sozinho, talvez alguém com a metade da idade dele consiga ter uma rede social e acompanhar frutos do seu (também) trabalho.... Ou, vai optar pela negação e manutenção do delay!

Pude observar também, nesse tempo, que quem passou anos fazendo feijão com arroz, pode ser que saia desse isolamento fazendo feijão com arroz, seja por um mal hábito muito arraigado, seja por falta de conteúdo/conceito. Talvez, poucas pessoas saiam melhores, ou mais interessadas, ou mais [qualquer coisa boa que possa ser/ter].... Na minha área, especificamente - educação física - tenho notado o tamanho da nossa importância nesse período e, a enorme brecha que a gente conseguiu para se mostrar importante e "eficiente" - até fomos considerados essenciais, vejam só! Academias, grande vetor para proliferação de vírus, foi considerado serviço essencial, que maravilha!!!! Mas, vamos esquecer a proliferação do vírus - já diz o presidente "só uma gripezinha" - e focar na nossa atuação. Quanta gente que não precisaria estar se "expondo" nas redes sociais.... Minha filha de sete anos teve aula de postura com figuras, alongamentos (sem exemplos visuais) e dribre/arremesso de basquete - fiquei pasma com o método. Vi dono de academia se preocupando com quem vai no estabelecimento (pago!!) e pouco preocupado com quem optou por seguir o isolamento e ficar em casa. Gente falando e dando exemplos ruins durante suas aulas ao vivo. Gente falando pra ficar em casa, fazendo o exercício fora de casa....essa minha profissão (que tanto amo) as vezes me entristece.... 

Agora, para quem tem uma casa confortável, carro, água encanada, consegue comprar comida pelo ifood, tem educação particular, está recebendo seu pagamento (em home ou não), com comida no armário e na geladeira que se acha "guerreiro/a", ou que está "tirando leite de pedra", ou se sentindo prejudicado/a pelo fato de ter que ficar em casa com crianças fazendo os afazeres domésticos.... faz esse exercício de mentalização: imagine como vai ser daqui 10 anos a vida de uma criança preta, pobre da periferia/favela que mora com 8 pessoas em dois cômodos; sem água pra lavar as mãos; que vai perder a vó para o COVID e, possivelmente mais alguns ao seu redor; a criança que a mãe não consegue o auxílio emergencial, porque está há dois meses "em análise"; que está sem qualquer possibilidade de fazer aula remota; que vai perder o irmão mais velho pra violência de uma polícia opressora, VISUALIZOU? Essa criança, "SE" chegar lá na frente com a minha filha aos 18, essa sim será uma vitoriosa e, não a minha filha, que está aqui, confortavelmente acolhida em casa, mesmo com as loucuras de home office do pai, aulas gravadas e online da mãe, demandas domésticas, escola online....etc etc etc. Eu espero que as minhas duas filhas aprendam, com tudo isso, a dar valor à liberdade e a todo o conforto que elas têm; que elas saibam e reconheçam lá na frente (começando por agora) a infinidade de privilégios que elas possuem, mesmo sendo crianças em isolamento. As privações delas, são infinitamente menores do que as de muitas por aí!  

Essa frase quem disse foi meu marido, não foi exatamente assim, essa era a ideia - "as prioridades das pessoas mudam de acordo com o número de pessoas olhando". E, em plena quarentena, em meio a um home office sem cobranças ("sem obrigações"), as redes sociais explodindo de gente pra frente, pró ativo/a, programações full por todos os lados, me vejo numa frustração tão grande....como eu queria fazer mais do que gosto, estar com alunos e poder oferecer o mínimo para eles, pois eu sou a pessoa acima - da situação "confortável". Não que eu ache que a gente precise ser super produtivo em casa, ao contrário, acho que cada um vai definir suas metas, prioridades e possibilidades (esta ultima com muito mais ênfase), mas, não dá pra achar que DE REPENTE você vira vocês (no plural), quando o sentimento de coletividade foi se exaurindo junto com os dias de isolamento, e praticamente ninguém fez questão de manter isso. E, DE RE-PEN-TE, todo mundo vira "home worker"!     

Criei expectativas (MUITAS). Tenho esse hábito (ruim acredito) de achar que as pessoas podem fazer e ser cada vez melhores, que elas podem se superar e, que elas podem ser justas consigo e com os outros....ter empatia.... Confirmei: pura ILUSÃO! Uma ilusão que vou carregar a duras penas quando acabar essa quarentena e eu tiver que olhar algumas pessoas nos olhos. O meu exercício de agora - até o dia que sairmos desse isolamento e as coisas forem retomando aos poucos - vai ser o estabelecimento de um mantra diário com as seguintes frases: "você fez o que pôde, fique feliz, a quem ama se desnude e seja franca, aos demais vista sua couraça e deixe pra lá!" 

Mais um dia de pensamentos para desabafar...no entanto, apenas duas postagens em mais de 60 dias de isolamento. Estou me controlando bem.....fica comigo silêncio, que com você eu aprendo a dar conta da gritaria aqui dentro....

Boa noite....

Bjo grande a todos que se dispuseram a ler até o final!!!

Imagem: light.gg


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